Médicos de 15 hospitais privados da cidade de São Paulo apontam crescimento no número de internações por Covid-19
O número de internações e de atendimentos de pacientes com Covid-19 subiu entre outubro e novembro na rede privada de Saúde de São Paulo, apontam médicos de 15 hospitais privados ouvidos pelo Jornal Hoje.
A pandemia começou em março no Brasil, tendo a capital paulista e o estado de São Paulo como epicentro inicial. Com os indicadores de mortes e casos semanais diminuindo, porém, o estado foi flexibilizando as regras de distanciamento social impostas e autorizando a abertura do comércio e de parques. Médicos apontam agora, porém, que essa flexibilização está gerando uma nova incidência de casos em pessoas que até então estavam isoladas em suas casas.
Para eles, os principais motivos da alta é o relaxamento das medidas de prevenção contra o coronavírus. Segundo especialistas na doença que trabalham em grandes redes hospitalares privadas da capital paulista, nas últimas três semanas, voltou a aumentar o número de internações, além de atendimentos nos prontos-socorros por causa da doença.
O movimento já provoca reabertura de leitos exclusivos para Covid-19 nos hospitais privados, segundo as entidades.
O médico Marcio Sommer Bittencourt, mestre em saúde pública pela Universidade de Harvard, acompanha os dados dos hospitais privados na pandemia desde o início e confirma a tendência de subida da curva.
” Temos 3, 4 semanas comprovando que realmente é uma reversão de tendência, não é só um ruído no dado, o que indica que a doença está voltando a circular, porque internação é uma consequência da quantidade de casos que tem na comunidade”, disse Bittencourt.
O governo do estado de São Paulo, porém, nega o aumento.
“Todas as internações que acontecem no estado de São Paulo, seja no ambiente público, seja no ambiente privado, elas são notificadas para os nossos órgãos reguladores dentro da secretaria de estado da Saúde. Isso vai acontecer em todos os 645 municípios, nenhum município realiza de outra forma, seja internações que aconteçam nas enfermarias, sejam as internações que acontecem nas unidades de terapia intensiva. Então nós trabalhamos com números oficiais. Estes números oficiais não revelam o que foi exposto pela mídia”, disse Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do Estado de São Paulo.
“Nós não temos essas informações como tem sido atribuído por alguns órgãos de imprensa. Nós temos que considerar em outros aspectos: as pessoas devem se conscientizar que o cansaço não pode vencer o medo, as pessoas tem que ter medo, medo é respeito. Nós temos que ter o respeito das regras sanitárias”, acrescentou.
Classes A, B e C
Segundo os médicos, a maioria dos pacientes estão vindo com quadro mais leve. Agora, o perfil dos pacientes envolve pessoas de maior poder aquisitivo e classes A, B e C, que estavam mais confinadas e que não haviam sido expostas ao vírus.
“Em média, 8 a 10 pacientes têm me ligado falando que os exames estão positivos”, afirmou o médico Dante Senra, coordenador de UTIs e doutor pela USP
“Nós chegamos há um mês, um mês e meio, desativar uma [UTI] e ficar menos 50% da segunda UTI, em vias de fechar a segunda UTI. Hoje, possivelmente nós reabriremos a terceira UTI”, acrescentou Senra.
“Se você me perguntar: aumentou número de casos, os hospitais estão cheios ? É fato. Os hospitais estão cheios”, disse o doutor em imunologia Roberto Zeballos.
“E os números estavam caindo muito, os números de atendimento. E de 3 semanas pra cá, aumentou consideravelmente o volume de paciente”, acrescentou a médica infectologista Maisa Benette.
Vacina
Após uma suspensão temporária no processo, devido à morte decorrente de outro fator de um voluntário, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que os testes da CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o estado de São Paulo, serão retomados.
O Instituto Butantan, responsável pela aplicação das doses no Brasil, disse que os estudos reiniciarão imediatamente.
“A ANVISA informa que acaba de autorizar a retomada do estudo clínico relacionado à vacina Coronavac, que tem como patrocinador o Instituto Butantan”, disse a agência, em nota.
Há dois dias, os testes haviam sido suspensos pela Anvisa por causa da morte de um dos voluntários. Segundo a nota divulgada pela agência nesta quarta, o “evento adverso grave” que levou à suspensão ainda está sendo investigado. A Anvisa informou que “não está divulgando a natureza” do ocorrido em respeito à privacidade e integridade dos voluntários de pesquisa”.